Maria – mulher que não sabia
jamais paronde ia. Nem o quando ela sabia.
Maria sabia tão somente que ela ia.
E ela também sabia: um dia chegaria – quando?
Disso ela não sabia. Maria porém sabia que,
por onde quer que fosse, sempre se entregaria.
Se entregaria como qualquer pessoa, que, por mais
que se doa, se entregaria àquele mar.
Ah, ao mar ela sabia que iria.
Maria, afinal, era toda a mar. Profundas águas,
tão rudimentarmente salgadas, às quais poucos
conseguiram, de fato, penetrar.
Maria é essa loucura – muitas vezes, de ressaca.
Sempre oblíqua. Jamais dissimulada.
Maria também jamais jamais dizia. E pudera,
como poderia?
Não sabia aonde ia!
E tem mais uma coisa que Maria sabia.
Ela sabia que, por onde quer que andasse,
jamais se esqueceria de colocar os pés no chão.
Podia bem olhar pro céu. Mas os pés
eram no chão.
Porque Maria já aprendera:
Quando não mais fores adentrar naquele mar,
a água do corpo, bem aos poucos, secará.
O Sal, ele vai precisar cair no chão. Quando é
sal e não tem água, ele resseca
o coração. Ele arde. Faz arder.
E, assim, ia Maria. Sem bem saber
para onde ia. Deixando pitadas do seu
sal pelos caminhos que seguia.
E enterrando os pés na terra, à qual Maria pertencia,
só sabia que amaria.
E se é da terra ou se é do
mar, Maria nem se importava.
Porque, no fundo, Maria sempre soube que
somente a ela pertencia.
Ela é somente dela.
Maria é de Saudade.
(Luciana Cafasso)